segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Lua de Larvas - Sally Gardner [Impressão de leituras + Sorteio]

 Oi, tudo bem com você?

Quer tal ganhar o livro Lua de larvas, da Sally Gardner e mais dois marcadores e dois bottons lindos do livro?

Pra participar é fácil, fácil, estrupício!

É só preencher esse formulário aqui, e ser inscrito no canal Patrícia Pirota. Pronto! Simples e rápido!

Se o vencedor também for inscrito no blog, ganhará um presentinho surpresa. ;)

O sorteio começa hoje (29/09/2014) e será encerrado no dia 31/10/2014.



Eu divulgarei o nome do vencedor no dia 01/11/2014, através de e-mail e das redes sociais.

Qualquer dúvida, fique à vontade nos comentário!

E se você ainda não viu o vídeo sobre o livro, clica aqui ó: Lua de Larvas, Sally Gardner.

Beijo procês!
 

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Eu juro - Antonio Prata

Fonte da imagen
Eu juro
Antonio Prata

Você está passando por um momento difícil? Calma. Vai passar. Olhe, não fique assim, não, vai passar. Eu sei como dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai agüentar, mas agüenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar pra se estar. (Fernando Pessoa escreveu, num momento parecido, "hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu").

Dor é assim mesmo, arde, depois passa. Que bom. Aliás, a vida é assim: arde, depois passa. Que pena. A gente acha que não vai aguentar, mas aguenta: as dores e a vida.

Pense assim: agora tá insuportável, agora você queria abrir o zíper, sair do corpo, encarnar numa samambaia, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa. Mas agora já passou. Agora já é dez segundos depois da frase passada. Sua dor já é dez segundos menor do que duas linhas atrás.

Você acha que não porque esperar a dor passar é como olhar um transatlântico no horizonte estando na praia. Ele parece parado, mas aí você desvia o olho, toma um picolé, lê uma revista, dá um pulo no mar e quando vai ver o barco já tá lá longe.

A sua dor agora, essa fogueira na sua barriga, esse chumbo na garganta, essa sensação de que pegaram sua traquéia e seu estômago e torceram como uma toalha molhada, isso tudo - é difícil de acreditar, eu sei - vai virar só uma memória, um pequeno ponto negro diluído num imenso mar de memórias. Levante-se daí, vá tomar um picolé, ler uma revista, dar um pulo no mar. Quando você for ver, passou.

Agora não dá mesmo pra ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a gente deve ser feliz sempre? Isso é uma bobagem. Como cantou Vinícius: "É melhor viver do que ser feliz". Porque pra viver de verdade a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. 

Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, eu sei como dói. Mas passa.

Tá vendo a felicidade ali na frente? Não, você não tá vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir e o único jeito de deixá-la pra trás é continuar andando. Você vai ser feliz.

Tá vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que tô falando a verdade. Eu não minto. Vai passar.

REFERÊNCIA: PRATA, Antonio. Adulterado. São Paulo: Moderna, 2009 p. 113-115

domingo, 7 de setembro de 2014

A saudade e o cotidiano.

A saudade e o cotidiano

Senti sua falta por dois,
três infinitos dias.
A saudade me corroeu como o arsênico
corrói o metal:
Lenta e desgraçadamente.
Depois,
depois veio a vida,
o despertador,
a água gelada na cara,
o ônibus lotado,
a janta fria,
o calor do diabo,
as contas com juros,
o trabalho acumulado,
as noites mal dormidas.
E um dia,
quando vesti aquela camiseta azul,
aquela que dormiu ao seu lado
por tantas noites seguidas,
aquela, que ficou com seu cheiro
grudado entre as linhas.
Nesse dia,
quando estava saindo do trabalho,
derretendo debaixo de um baita sol,
olhei pra minha camiseta,
e percebi que já há muitos dias você tinha me deixado.
No meio da rua,
descobri que nem a camiseta nem eu
sentíamos mais sua falta.
Estávamos, ambas, desviando das pedras
no caminho
tão ocupadas com a realidade que nos sufocava,
que nos esquecemos de que um dia,
que parecia tão distante,
você fez parte de nossas vidas.
Nos esquecemos de que um dia
você nos abraçou com o maior amor do mundo
E então os carros buzinaram ensandecidos,
e eu corri pra atravessar a rua.
E novamente te esqueci.
Porque a saudade só cresce em jardim sem cotidianos.
E o amor só cria raízes em terras sem realidades ensurdecedoras.

Patrícia Pirota [num agosto infinito de 2014]

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Noite em claro - Martha Medeiros


"Na solidão de seu apartamento, uma mulher escreve sobre a sua história numa noite de insônia. Uma história plena de relacionamentos marcados por frustrações, dor e prazer. Encorajada pelo champanhe, sem nenhuma censura, ela vai contando sua vida enquanto chove lá fora. O livro só terminará com o último pingo de chuva". [Sinopse do livro]

Noite em claro é o último romance de Martha Medeiros. Foi criado para fazer parte da Coleção 64 páginas, da L&PM Pocket, e tem, é claro, 64 páginas. Eu gostei bastante dessa proposta da L&PM [que todo mundo sabe que é a editora que mora no meu coração, né!], e o texto da Martha ficou na medida, lindo, poético e perfeito pra ler numa noite chuvosa ou não.

"Foi o maior striptease da minha vida. Não tirei luvas, meias, sutiãs. Tirei minha alma pra fora." [p. 48]

Eu o li em menos de uma tarde. Não conseguia desgrudar meus olhos das páginas, pois a cada frase a narradora parecia me descrever um pouco mais.


"Hoje meu inferno chama-se falta de paciência." [p. 42]

Essa é uma das características mais marcantes em Martha Medeiros: a capacidade de nos descrever mesmo sem saber quem somos. As personagens de Martha parecem sempre tão reais, tão "next door", que nos identificamos com elas logo no primeiro contato.

"Comi uma barra de chocolate só pra fingir que nada me importa, mas tudo me importa como nunca me importou nesta noite em que estou sozinha, tentando ficar bêbada, prestes a ser gorda, infernizada por recordações do passado e impaciente para inventar um futuro." [p. 3]

Há no livro uma capacidade de envolver o leitor a tal ponto que ele faça parte da história, embora ela não use um narrador "intrometido" e falante. O livro é a história de uma mulher vazia, que tem que comprar flores pra si mesma. Me lembrou muito a Mrs. Dalloway, de As Horas, e toda aquela amargura disfarçada em flores coloridas e festas vazias.

"Hoje meu sentimento é uma pedra. No dia dos namorados, é esta pedra que me habita." [p. 12]

O texto fala de relacionamentos, de todos os tipos. A personagem principal, que passa praticamente todo o texto sem nome, é uma mulher em busca de algo que possa lhe preencher o vazio, e que vai se relacionando com os homens errados, nas horas erradas.

"A gente se apaixona pelo que é impossível em nós." [p. 23]

Percebi uma certa influência - ou seria um reflexo? - de Caio F., especialmente no que diz respeito ao sexo. E o sexo tem um papel bastante importante na narrativa, porque faz parte da insatisfação e da satisfação da personagem.

"Todas as pessoas trazem o mesmo rosto melancólico de quem viveu tudo e não encontrou o que procurava." [p. 27]

É um texto doído, mas poético... É um texto marcado pela rotina, pelo dia-a-dia, pelas gotas da chuva que caem na janela enquanto ela conta sua história cheia de estilhaços que ficaram perdidos pelo caminho.

É um livro para se ler de um fôlego só, num dia chuvoso ou não, mas, de preferência, num dia em que você possa se permitir ficar sozinha com suas dores e suas saudades, pois elas virão lhe fazer companhia assim que a noite em claro terminar...

Aqui está o vídeo em que eu falo sobre o livro: Noite em claro

REFERÊNCIA: MEDEIROS, Martha. Noite em Claro. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2012.