sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Sobre lâmpadas e coisas qualquer coisa

Anteontem, a lâmpada do meu quarto queimou. Ela não se apagou apenas; fez um barulho, um estalo e despediu-se dessa vida para ir pra onde quer que a alma das lâmpadas [ou lâmpidas, pra ficar com mais cara de Adoniran] vão.

Daí que fui procurar uma lâmpada pra colocar no lugar, e a única que estava disposta a trabalhar conseguia ser mais fraca que a luminária que tenho no criado-mudo. Mas né, vai essa mesma, porque a janela do meu quarto é pequena pra diabo, e a luz que vem de fora não dá pra quase nada.

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A lâmpada 'tá ali, na dela, me quebrando um galho, pra modo de meus pés e minha canela não saírem lépidos pelo quarto se encontrando com cama, mesa, cadeiras e outros móveis com comportamento violento.

Mas eu não gosto dessa lâmpada. Agora mesmo, enquanto escrevo esse texto, ela está me deixando irritada.Vejo essa luz fraca, com seu jeito qualquer coisa de ser, e, mesmo sabendo que ela está fazendo sua parte, ela não me convence.

E daí que na semana que passou eu estava mesmo pensando sobre as qualquer coisas que nós aceitamos em nossas vidas, e que vão ficando, e ficando pelo simples fato de, ninguém sabe por que, terem chegado ali. Às vezes pra quebrar um galho, às vezes porque era o que tinha pra ontem.

E ao olhar pra essa maldita lâmpada, eu me lembro de quantas coisas qualquer coisa eu já deixei irem ficando em minha vida, apenas pra não ter o trabalho de procurar algo que as substituísse. Ou pra evitar a fadiga de procurar, procurar, achar que achei o certo e, no fim das contas, perceber que vou ter que procurar de novo, porque aquele não serviu.

Quantas roupas eu já comprei pensando em ajustar uns dois dedinhos. Quantos sapatos já vieram morar no meu armário porque eu pensei que, depois de um certo tempo de uso, eles iriam lacear. Quantos livros eu já comprei só porque eu precisava comprar um livro, e o que eu queria não estava disponível na hora, então resolvi pegar qualquer um, só pra preencher o vazio, só pra matar a vontade.

Já faz algum tempo que tenho evitado esse tipo de comportamento. Um bom tempo, na verdade. Tento não achar substitutos mais fáceis, rápidos e cômodos pra colocar no lugar de outra coisa que queria tanto, mas que hoje não tem, quem sabe amanhã?

Não são raros os dias em que reclamamos de que algo nos falta, até porque, somos todos uma falta infinita. E é isso que nos move, nos impele a continuar buscando. Mas hoje, perto dos meus 3.0, penso que há certas coisas que não compensam ser caçadas. Ou mesmo substituídas por outras mais cômodas, mais prateleira de baixo...

Sim, do meu torto modo, tento falar de amor. Há muito que parei de procurá-lo em cada esquina, em cada olhar. Há muito que tenho me contentado com esse vazio, que às vezes vem em forma de fome insaciável. Há muito que espero que ele venha por si só, sem que eu tenha que ir atrás dele.

Tenho me contentado com todos os outros amores que me alimentam, e, em sua maioria, eles não são qualquer coisa. Meus amigos, meus livros, minhas músicas, meu trabalho, meu rock'n roll de fim de semana. Eles são o que me impede de buscar uma lâmpada menos potente pra colocar no lugar daquela que há muito se queimou.

Não é a mesma coisa, mas ao mesmo tempo não é qualquer coisa. É um quebra-cabeça no qual sempre há de faltar uma peça, mas uma peça que não dá pra achar em qualquer lojinha de 1,99. Um peça que não dá pra trocar por outra, porque o resultado nunca será o mesmo, e é capaz de a peça estragar com todo o resto do desenho.

Engraçado é que percebo os olhos de "por que ela está há tanto tempo sozinha?". Ninguém fala, mas todo mundo se pergunta. E pra falar a verdade, eu também me pergunto, mas não falo. Penso que prefiro ficar assim, com essa peça faltando, até o dia em que, num baú escondido, eu vá achar aquela que vai encaixar certinho no vazio da figura.

Não vou promover mutirões, como também não vou abrir caixa por caixa atrás dela. Muito menos aceitar uma peça qualquer coisa, só pra dizer Olha! Consegui! Também tenho uma peça pra chamar de minha!

Quando se trata de amor, lâmpadas e quebra-cabeças não aceito nada menos do que o necessário.

É por isso que vou terminar esse texto sem sentido agora, e ir até o mercado comprar uma lâmpada. Porque, depois que eu me acostumar com essa meia-luz, com essa escuridão disfarçada, vai ser difícil ter coragem de procurar a lâmpada ideal de novo.

Patrícia Pirota
Janeiro de 2012

Voltamos com a programação anormal deste muquifo.

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Oi, tudo bem com você?

Lembra de mim? Uma doida que costumava escrever por aqui? Pois muito bem, voltei!

'Bora recomeçar... De novo e de novo, quantas vezes forem necessárias.

Não vou fazer como no blog antigo, e ficar lamuriando minha falta de tempo, responsabilidade e etc etc... Não vou me justificar pela ausência, nem dizer que... Ah, deixa pra lá, vai!

Só vim dizer que este muquifo voltará com sua programação anormal. E que ficarei imensamente feliz com sua companhia.

É isso. Espero que você esteja muito, muito bem!

Um beijo procê!