sábado, 27 de fevereiro de 2016

Terapia da professora #2 - Sobre meus mestres

[PS: Leia ouvindo "O caderno", de Toquinho. Mas não se esqueça dos lencinhos. ;) ]

"Recorde-se dos professores que influenciaram sua vida para o bem. O que fizeram? Como lhe proporcionaram o necessário? Siga-lhes o exemplo."

Minha primeira professora foi minha mãe, dona Maria Rosa. Ela foi a primeira a me mostrar o encanto das letras e dos textos. Lia por horas, incansável, meus livrinhos de histórias da Disney. Pegava na minha mão e me guiava [o que faz até hoje, inclusive] pela folha, me mostrando que eu também podia fazer magia e do lápis fazer brotarem palavras. Graças à Dona Maria, aos quatro anos, consegui formar as primeiras palavras [escritas de trás pra frente, ao contrário; mas não é a vida toda também ao contrário?], e dei os primeiros passos na alfabetização.

Aos seis anos entrei para a escola. Fui obrigada a entrar direto na primeira série [por já ter iniciado a alfabetização e por ser muito maior que as demais crianças, por incrível que pareça!] e pulei o tal do prezinho... E lá, naquela escola nos cafundós do mundo, conheci a que seria a terceira mulher mais importante e inspiradora de minha ainda tão curta vida.

Professora Regina tinha um sorriso tão grande, mas tão grande, que parecia que o mundo todo sorria junto com ela. Era amável, carinhosa e paciente. Quando eu tinha dificuldades [e eu as tinha aos montes, porque era míope e ainda não sabia... Era disléxica e também não sabia... Era gorda, e disso sabia, porque meus colegas não me deixavam esquecer disso um minuto sequer...], ela sorria e, com uma paciência que não era deste mundo, me ajudava a enfrentá-las, uma por uma, um pouquinho de cada vez.

Sua presença sempre tão querida me ajudou a superar meus problemas. Lembro-me como se fosse hoje quando meu primeiro caderninho, tão charmosamente decorado por minha mãe, acabou. Nós não tínhamos condições de comprar outro. Pode parecer pouco, um caderno, mas eu não tinha sequer sapatos, a não ser um chinelinho verde; assim, um caderno era demais pra nossa família.

Naquele dia, em que eu escrevi na última linha, da última folha de meu caderno, eu me senti envergonhada por não ser como meus colegas e poder comprar outro caderno cheio de bonitas figuras. Professora Regina pegou folhas sulfites, dobrou-as delicadamente, fez uma capa bem bonita, me entregou e disse: Pronto! Agora você tem um caderno que ninguém mais tem, feito com muito carinho.

Já se passaram 25 anos desse episódio, e ainda hoje eu me lembro do quanto eu me sentia bem perto da minha "Professora Helena". Carrossel estreava exatamente naquele ano, e eu me sentia tão feliz de ter uma professora Helena só pra mim, uma fadinha madrinha, que me ajudou a passar por um dos períodos mais difíceis e tristes da minha vida...