domingo, 7 de setembro de 2014

A saudade e o cotidiano.

A saudade e o cotidiano

Senti sua falta por dois,
três infinitos dias.
A saudade me corroeu como o arsênico
corrói o metal:
Lenta e desgraçadamente.
Depois,
depois veio a vida,
o despertador,
a água gelada na cara,
o ônibus lotado,
a janta fria,
o calor do diabo,
as contas com juros,
o trabalho acumulado,
as noites mal dormidas.
E um dia,
quando vesti aquela camiseta azul,
aquela que dormiu ao seu lado
por tantas noites seguidas,
aquela, que ficou com seu cheiro
grudado entre as linhas.
Nesse dia,
quando estava saindo do trabalho,
derretendo debaixo de um baita sol,
olhei pra minha camiseta,
e percebi que já há muitos dias você tinha me deixado.
No meio da rua,
descobri que nem a camiseta nem eu
sentíamos mais sua falta.
Estávamos, ambas, desviando das pedras
no caminho
tão ocupadas com a realidade que nos sufocava,
que nos esquecemos de que um dia,
que parecia tão distante,
você fez parte de nossas vidas.
Nos esquecemos de que um dia
você nos abraçou com o maior amor do mundo
E então os carros buzinaram ensandecidos,
e eu corri pra atravessar a rua.
E novamente te esqueci.
Porque a saudade só cresce em jardim sem cotidianos.
E o amor só cria raízes em terras sem realidades ensurdecedoras.

Patrícia Pirota [num agosto infinito de 2014]

4 comentários:

  1. "Porque a saudade só cresce em jardim sem cotidianos." Pensando...

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  2. Patricia obrigado, suas palavras me fez um bem danado, estou muito tocada.

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  3. Ociosidade sempre leva a mente a remoer dores quase mortes, e a rotina, embora cansativa, muitas vezes nos impede de lembrá-las. Lindo, lindo! *-*

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'Brigada por ter me dado um 'cadinho do seu tempo!
Assim que possível, respondo, viu!
Beijo procê!