segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Ler, viver e amar em Los Angeles [Pseudo resenha para um pseudo romance]



ESSE TEXTO CONTÉM SPOILERS!
E contém linguagem inapropriada para menores de 18 anos.

[Eu avisei que o texto é cheio de Spoilers, não avisei? Pois bem, continue por sua conta e risco...]

Pois bem... Um belo dia eu vi essa capa aqui do lado. Linda! E logo em seguida vi essa descrição aqui: "Uma Bridget Jones que gosta de ler. Algumas comem. A maioria faz compras. Há aquelas que fumam ou bebem. Outras ligam para o terapeuta. Dora cura a sua tristeza lendo - às vezes por dias consecutivos. Separada pela segunda vez, sua vida se resume a ficar na banheira com vinho e livros - de Tolstoi a Mark Twain, de Flaubert a Jane Austin. Best-seller e livro cult na Costa Oeste americana mostra como a boa literatura pode ser reconfortante e um chave contra os momentos mais difíceis da vida. Tudo isso tendo como cenário a luxuosa Los Angeles, suas lojas, paisagens e ruas que moram no imaginário dos amantes de cinema e dos seriados de TV." [Sinopse disponível no site da Livraria Saraiva]

E então eu li esse primeiro capítulo AQUI. Pronto! Fiquei louca pelo livro. Precisava dele desesperadamente. Até que o Submarino resolveu atender minhas preces e o colocou a dez reais mais frete grátis.

Uma das coisas que eu já deveria ter aprendido após anos como leitora, é que nunca se deve ir com muita sede ao pote, porque as chances de nos decepcionarmos são maiores. Dito e feito.

A capa realmente é linda. A contracapa é uma das mais convidativas que li em anos. A Publishers Weekly assim descreveu o livro: "Completo. Leva a pensar. Dora é o tipo de heroína imperfeita com quem os leitores facilmente vão se identificar". Assim falou o New York Post sobre o livro: "Quase chorei quando o livro acabou. É simplesmente fabuloso". O primeiro capítulo foi ótimo.

E acabou-se o que era doce.

Assim que terminei os dois primeiros capítulos, a Ju [d'O batom de Clarice, aquela linda!], fez um vídeo [que ela, infelizmente, tirou do ar!] falando sobre o livro. E então eu me perguntei se valia a pena continuar lendo. Ela disse que eu deveria, e eu não iria jogar fora dez realidades, né minha gente? E em menos de dois dias terminei de ler o bendito.

Eu costumo fazer anotações nos meus livros. Rabisco, escrevo comentários, faço desenhos, essas coisas que bibliófilos adoram #not. Só que dessa vez, eu fiz anotações com um propósito: fazer esse post! Fui sublinhando as partes que iria citar. Fazendo comparações. Caretas. A cada página lida, eu me retorcia ainda mais. A cada parágrafo lido, eu tinha mil idéias pra mil posts. Mas quis deixar aquele sentimento todo passar...

Terminei de ler o livro de Sábado pra Domingo. E hoje estou aqui pra dizer que sinto muito, mas ele não vale os 10 reais que paguei. Mas por que, estrupícia?!

Por quê?! Por quê?! Senta que lá vem história...



Sabe aquela descrição lá do início? Pois é... Propaganda enganosa, meu bem. De Bridget Jones essa Dora não tem nada! Eu não gostaria nem de entrar na tal discussão de o que é "Chicklit" e do que não é, porque não tenho envergadura moral pra falar disso. Dos considerados "chicklits" li apenas "O diário de Bridget Jones" e "Melancia". E só. E acabou.

Pelo que parece, a literatura que é denominada "pra mulherzinha", envolve protagonistas absolutamente imperfeitas [porque a mulher contemporânea não pode mais ser perfeita. Ela não tem mais esse direito], que, depois de complicados casos de amor e de trabalho, vivem felizes para quase todo o sempre. É claro que isso é um resumo que não faz jus a toda a gama de personagens criadas pelas autoras desse tipo de literatura; mas, na sua maioria, as mulheres desses livros são um esteriótipo. Algumas são bem trabalhadas, outras não. Alguns enredos são bem desenvolvidos, outros não. E isso independe de ser "chicklit" ou não. Isso depende da competência do escritor.

Não quero, DE JEITO MANEIRA, começar uma discussão sobre "literatura de verdade" e "literatura de mentira". Não posso fazer isso. Sou formada em Letras, e jamais conseguiria ser imparcial. Mas quero levantar a questão da diferença entre  O QUÊ é contado e COMO é contado.

Não que eu não tenha gostado de "Ler, viver e amar" pelo enredo em si. Acho até que daria um bom filme pra assistir naqueles dias em que a preguiça toma conta de nosso ser. Agora, a forma como esse enredo é contado é sofrível! Faz tempo que eu não lia alguém escrever tão mal. E não falo aqui dos erros de ortografia não [Sim! Eles existem, e são vários]. Falo do estilo de escrita. Ou da falta dele.

Assim como a Ju falou no vídeo, parece que elas tinham um rascunho da idéia do livro, quando a editora ligou e falou: "Quero pra semana que vem!". Daí as duas [meu deus! Precisou de DUAS pessoas pra escrever aquilo?!] escreveram correndo e deixaram tudo pela metade.

E é essa a impressão que tenho do livro: que é uma ideia pela metade. Vá lá e leia a descrição novamente. [Pronto? Leu?] Me diz se não parece ser um livro genial pra quem gosta de Literatura? Daí as autoras vão lá, e, no meio do livro, resolvem enfiar o pé na jaca e imitar Júlia e Sabrina. [Se você não leu, pergunte pra sua mãe. Se ela negar, é porque leu.]

Nem vou entrar na questão da diferença entre "Ler, viver e amar" e "Crime e Castigo", por exemplo. Isso seria ignorância. Seria um tipo de elitismo que eu tento combater. Porque existem os textos clássicos e existem os textos contemporâneos. E suas diferenças só podem ser vistas através da análise literária. E eu não quero dar aula de análise literária.

Quero falar do livro enquanto uma simples leitora, mesmo que minha visão seja condicionada pelos de teóricos que li [afinal, nossa visão é sempre condicionada por nossas experiências anteriores]. Mesmo que minha vontade seja de dizer "Ah, é ruim. E ponto final". Não quero fazer isso. Quero apenas mostrar porque EU [assim, em caixa alta, que é pra deixar claro a pessoa do discurso] não gostei do livro.

E sabe qual foi o motivo que me fez mandar as autoras pra putaqueopariu de uma vez? Sexo. Sexo barato, vulgar e inconveniente. Porque, convenhamos, quando você abre um livro de Henry Miller, está mais do que ciente de que encontrará sexo. Quando lê uma peça do Nelson Rodrigues, sabe que sexo será o assunto principal. Quando lê Caio Fernando Abreu, sabe que o sexo, mesmo que de uma forma fantasiosa e metaforizada, estará presente em suas cores.

Agora, eu juro que não esperava me deparar com parágrafos e parágrafos de sexo nesse livro. Uma coisa é ler Nelson e encontrar a palavra putinha. Na verdade, estranho seria se não encontrássemos. Outra coisa é ler um livro que eu pensava ser sobre literatura e seus leitores, e me deparar com essa cena:

"Desenlacei as pernas da cintura dele e, de modo serviçal, deixei-o se deitar em cima de mim. Ele estava duro como rocha e fez com que eu descobrisse isso.
-Abra as algemas, Fred - pedi com um gemido. Eu quero que você me coma. Agora.
[...]
Ao me penetrar ele sussurrou:
-Quem diria que minha gatinha é uma putinha" [p. 161-162]

Não. Você não leu errado. Não. Você não leu errado. E isso é só uma parte da orgia que permeia o livro. Peloamordedeus! Como é que alguém tem coragem de citar Tolstói e depois usar termos como "me come" e "putinha"?! Isso é um sacrilégio!!!

Veja bem... Eu não sou pudica. Não sou puritana. Mas não gosto de mau gosto. E esse parágrafo, pra mim, foi de extremo mau gosto. Por favor, leia esse trecho do conto "Dodecaedro", do livro "Triângulo das águas", de Caio Fernando Abreu.

"Preciso de um peso de homem sobre meu corpo, preciso de um membro de homem para umedecer em minhas entranhas esse vazio áspero que me faz sempre dançar e dançar, como possuída por alguma força estranha que reage sem cessar à imobilidade da morte." [p. 38].

Alguém mais além de mim percebe a diferença entre o nojento e o poético? Além disso... Aqueles que leem Caio, sabem que ali repousa uma sexualidade que toma conta do seu universo multifacetado.

Mas, ao ler uma história que fala sobre livros, não se espera, de repente, dar de cara com uma "putinha"...

Passemos às personagens, isto é, se você já conseguiu se recuperar do susto. Eu demorei. Confesso.

Dora é deprimente. DE-PRI-MEN-TE. Ela não é divertida como Bridget. Ela não é carismática como Carrie [Falo da Carrie de S.J. Parker]. Ela não é confusamente doce como Claire de Melancia. [e acaba-se aqui meu conhecimento nessa área].

Ela é chata. Não, mentira, ela é muito chata! Eu não conviveria com aquela mulher nem 24 horas! A personagem não tem profundidade. Não tem carisma. Não dá sequer um tiquinho de pena, tampouco provoca qualquer empatia.

O tal do Fred é um tipinho detestável. DE-TES-TÁ-VEL. Imagino que elas queriam colocar um tipo cafajeste, mas, sorry, não rolou. O cara é arrogante, vazio, chato! Chato!

Pra falar a verdade, a personagem da qual mais gostei foi Bea, que me parece a mais humana de todas. Dela eu consegui criar um rosto. Um sorriso. E até vi suas lágrimas molharem as páginas do meu livro. E ela - além de algumas citações - fizeram o livro não ser de todo ruim.

Quando lemos, precisamos criar a personagem. Precisamos senti-la ao nosso lado, caminhar com ela. Sorrir seus sorrisos, secar suas lágrimas. Os bons livros são aqueles que nos levam, tal qual as crianças de Nárnia, para dentro de seu guarda-roupa. E, definitivamente, eu não quero dividir a mesma cama de "Ler, viver e amar" com a chata da Dora e o nojento do Fred.

A minha impressão é de que todo mundo se perdeu nesse livro. Desde as autoras até os editores. Mas veja, tudo o que escrevi até agora é MINHA opinião. Existem várias resenhas que falam bem do livro, e eu não sou melhor do que ninguém pra julgar o gosto de alguém.

Se você lê meu blog, já está familiarizado com meus gostos e meu estilo de escrita, e antes de qualquer coisa, gostaria de deixar claro que todas as opiniões contidas neste blog são absolutamente minhas, pessoais e intransferíveis.

Digo isso porque, em todas as vezes que falei de algo que não gosto, levei pedrada. Assim como há pessoas que não gostam dos mesmos livros que eu gosto, e eu tenho que lhes respeitar a opinião, espero que a minha seja respeitada.

Concordo com tudo o que a Ju disse no vídeo. E acrescento que talvez você também devesse ler pra ter sua própria opinião. Porque não estou aqui para dizer "Não leia o livro". Estou aqui para dizer "Eu li, e foi assim que me senti".

Ao final de "Ler, viver e amar em Los Angeles", me senti enganada, e, possivelmente, a culpa foi minha. Na minha sede de novidades, na minha ânsia de ser maravilhada por algo novo, cai no buraco negro das esperanças.

Cada capítulo do livro é iniciado com uma citação de outrem. Penso que o livro deveria ser iniciado não com aquele belo poema de Ted Kooser, mas com a célebre [e que seria mais verdadeira] frase de Dante Alighieri: "Deixai toda esperança vós que entrais".

Porque os que não tem esperança, não se frustram; apenas seguem o caminho...

6 comentários:

  1. Pelo menos você conseguiu ler o livro, alguns desse tipo são tão ruins que o leitor não consegue nem chegar ao final. Só pelo título a gente percebe que é coisa armada pra vender livro. Não tinha aquele "rezar, comer e amar..."ou algo assim ? rsrs
    Eu imaginaria logo uma coisa bem comercial.
    Não dá mesmo pra confiar em crítica de New York Post...

    ResponderExcluir
  2. Se eu falar que nunca tinha lido/ouvido nada sobre esse livro... Aliás, nem sabia do livro... rs

    Acho que essa é a melhor definição de livro bom que já li... " Os bons livros são aqueles que nos levam, tal qual as crianças de Nárnia, para dentro de seu guarda-roupa."

    Fiquei com a impressão de que é tudo muito raso, muito vazio...

    E confesso a você que sempre fico com a pulga atrás da orelha quando tem muita badalação em volta de um livro. Esse parece que foi um desses casos de "marketing demais" e "escrita de menos".

    ResponderExcluir
  3. O livro me chamou bastante atenção, essa capa é mesmo linda de viver! Que pena que não supriu as boas expectativas. Se fosse eu também o teria lido até o final, eu simplesmente nao consigo começar um livro e deixar pra lá.
    Beijos, quero dizer que a forma como você fala dos livros me dão paz e me fazem querer ler cada dia mais.

    ResponderExcluir
  4. Também fui com "sede ao pote"...me decepcionei! Parece que as autoras começam uma história com boa intenção e depois...puuf...bateu a preguiça e terminam de qualquer jeito! O fim foi lamentável, corrido, sem nexo...e só me fez pensar: - Eu perdi mesmo todas essas horas nessa bobagem? rsrs

    ResponderExcluir
  5. Também fui com "sede ao pote"...me decepcionei! Parece que as autoras começam uma história com boa intenção e depois...puuf...bateu a preguiça e terminam de qualquer jeito! O fim foi lamentável, corrido, sem nexo...e só me fez pensar: - Eu perdi mesmo todas essas horas nessa bobagem? rsrs

    ResponderExcluir
  6. eu to lendo ele, e Meu Deus eu to entre amor e sono por esse livro, o que me estressa nele é o fato de que ela começa a falar de coisas que não vai acrescentar em nada no livro, relembrando historias do passado que não fazem muito sentido, também acho ela meio avaliadora demais da aparência das pessoas, oque me incomodou também, mas quero terminar pra ver no que vai dar

    ResponderExcluir

'Brigada por ter me dado um 'cadinho do seu tempo!
Assim que possível, respondo, viu!
Beijo procê!